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Consumismo, não! Por aqui é consumerismo

Sumário

O consumerismo diz respeito ao consumo consciente de produtos. Porém, não pense que é tão simples assim aplicar esse conceito no dia a dia. Imagine a seguinte situação: com o celular em mãos, você se deita para dormir e decide dar uma olhada no aplicativo do seu e-commerce preferido. 

Há alguns dias, você pesquisou por um item que deseja ter (uma bolsa lilás, por exemplo) e não encontrou nada que agradasse. Porém, os dados da busca ficaram registrados e os algoritmos do app sabem como usá-los. 

Enquanto desliza o dedo pela tela, aparece o anúncio de uma bolsa exatamente como você queria. O melhor: com 50% de desconto e ainda acompanhada de frete grátis. Impulsivamente, você clica no anúncio, confere os detalhes do produto, checa o limite do cartão e pensa “por que não? Eu já queria mesmo”. Compra concluída!

 

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Fazer anúncios pela internet garante um feedback mais completo do que anunciar pelos meios tradicionais, como rádio e televisão — Imagem/Reprodução: Pixabay

 

Esse não é um comportamento isolado ou que represente, necessariamente, um tipo de vício consumista. Especialmente no comércio digital, as pessoas são o tempo todo bombardeadas com ofertas e outros incentivos para gastar, como por exemplo a oportunidade de frete grátis e os famosos cupons de desconto, que ganharam espaço recentemente. 

 

Quanto mais consumir, melhor (para quem?)

De acordo com o relatório The Global Payments Report 2022, é esperado que o e-commerce brasileiro cresça 18% a cada ano até 2025. Mesmo que tenha se popularizado no país a partir dos anos 2000, foi por conta da pandemia de Covid-19 que houve um boom nas vendas online, já que a crise sanitária obrigou os clientes a comprarem de maneira remota e os vendedores a se adaptarem. 

Apesar da presença do consumismo no universo digital, vale lembrar que ele não se restringe apenas a compras online de bens materiais. Segundo divulgado pela Associação Brasileira de Supermercados (AbrasMercado), houve um crescimento de 2,26% de consumo dentro dos lares brasileiros no primeiro bimestre de 2022, comparado com o mesmo período no ano passado. 

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O desperdício de alimentos já é uma realidade na sociedade consumista. Enquanto alguns passam fome, outros jogam comida no lixo — Imagem/Reprodução: Pixabay

O cenário pode parecer otimista, pois mostra o aumento na renda das famílias em meio à inflação alta e taxas consideráveis de desemprego. Entretanto, quando o consumo se torna desenfreado, até em relação às compras de supermercados, existem consequências negativas que impactam tanto a sociedade quanto a natureza. 

 

As principais problemáticas do consumismo

    • Fortes impactos na flora e fauna, já que é necessária a extração de matéria-prima para atender os pedidos do mercado. Quanto maior a demanda, maior a retirada de recursos naturais;

    • Uso demasiado de energia, principalmente elétrica, para a fabricação dos produtos;

    • Poluição através do transporte e emissão de gases pelas indústrias;

    • Descarte incorreto de materiais, pouca eficiência na separação de lixo e baixa adesão à reciclagem. São raras as marcas que sinalizam como e onde os consumidores devem jogar fora os itens comprados;

    • Grande possibilidade de empresas não respeitarem direitos trabalhistas, pois visam unicamente a produção em massa;

    • A desigualdade social fica cada vez mais evidente;

  • O consumo massivo de propagandas traz a sensação de que a pessoa só recebe valor ao consumir aquilo que é divulgado. Além dos casos de compulsão em compras, há outros distúrbios da mente que podem aparecer, relacionados à ansiedade.
 
 

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Tyler Durden em Clube da Luta (1999) já tinha uma noção realista do consumismo — Gif/Reprodução: FRZI (ilustração por Marcella Rateiro/Tweek)

Por que o consumerismo é uma alternativa eficiente? 

É fato que o capitalismo não vai deixar de existir tão cedo. Pode ser que o sistema de produção entre em colapso daqui alguns séculos, mas mesmo depois haverá uma nova forma de organizar a sociedade economicamente, socialmente e politicamente. 

A partir disso, o consumerismo surge como uma tentativa de fazer com que o capitalismo continue existindo, mas sem esgotar os recursos naturais do planeta e também na expectativa de reduzir a desigualdade social. Este é um movimento social pautado em consumir com consciência, com o objetivo de cessar os efeitos negativos do consumismo. 

 

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Segundo o Jornal da USP, o descarte irregular de lixo eletrônico aumentou 49% de 2010 a 2019 na América Latina — Imagem/Reprodução: Unsplash

 

O termo vem de ethical consumerism (consumo responsável em inglês) e foi popularizado a partir dos anos 80, com o lançamento da revista britânica Ethical Consumer. O consumerismo pode ser praticado em várias vertentes, desde optar por consumir apenas de marcas veganas e que garantem a igualdade de direitos entre os colaboradores, ou até por aqueles que escolhem desviar da publicidade e decidem viver com o mínimo possível.

 

 

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Independentemente de como ele é colocado em prática, o consumerismo é caracterizado pela escolha consciente dos produtos, após uma reflexão individual. O consumidor leva em consideração, pelo menos, uma dessas categorias: cuidados da marca com o meio ambiente; relações justas no trabalho, por exemplo se o salário de homens e mulheres são equivalentes; saúde animal e humana; preço e marca.

É a partir desse estilo de consumo que o desperdício é evitado com mais facilidade e que os valores humanitários são levados em consideração no mercado. O consumerismo engloba as minorias e inclusão delas, a economia para o bolso do consumidor, a sustentabilidade e, acima de tudo, o respeito ao consumidor, pois evidencia o poder de escolha dele, tendo em vista que a manipulação não é usada para converter a publicidade em vendas.

 

Tire o consumerismo do papel!

Para que essa ideologia seja efetiva, é necessário o apoio do governo e de grandes empresas. As políticas públicas devem atuar diretamente em vários setores do mercado e estarem por dentro do que acontece nas companhias. O papel governamental é fiscalizar ambientes de trabalho e garantir que todos os direitos estejam sendo cumpridos, segundo a lei.

 

Optar por produtos veganos ou orgânicos são meios de adotar o consumerismo — Imagem/Reprodução: Unsplash

Além disso, o governo é o único que tem poder de exigir filtros nas publicidades que estimulam o consumismo e de criar campanhas de conscientização à população, como as orientações divulgadas neste Manual de Educação para o Consumo Sustentável.

Ainda que a iniciativa das grandes corporações, públicas ou privadas, não venha a acontecer, é importante que cada um faça a própria parte e contribua com a propagação de ideias relacionadas. Pesquise por marcas que adotam técnicas de preservação à natureza e que possuem programas de inclusão a minorias. Esse pode ser o primeiro passo, caso ainda seja difícil abrir mão de consumir produtos de origem animal ou desapegar de bens.

 

Educar é conscientizar

Além das atitudes alternativas de consumo na rotina, os mais velhos também podem assumir outra responsabilidade: politizar as gerações mais novas em relação ao tema, afinal de contas, nenhuma criança nasce consumista

A publicidade infantil é vista como abusiva e ilegal, pois tem características que induzem as crianças ao consumismo. Os responsáveis devem ficar atentos ao tipo de conteúdo que os pequenos têm acesso, especialmente na internet, meio em que é mais difícil limitar o que se vê. 

 

A internet deve servir como fonte de pesquisa e entretenimento para os pequenos, por isso é necessária a supervisão dos pais — Imagem/Reprodução: Pexels

Segundo uma iniciativa do Instituto Alana, chamada “Criança e Consumo”, a definição de publicidade infantil é feita da seguinte forma: 

“A publicidade infantil é uma comunicação voltada especialmente ao público infantil, com o objetivo de divulgar e estimular o consumo de algum produto, marca ou serviço. Crianças não têm capacidade plena para analisar criticamente os aspectos persuasivos da publicidade e, por isso, devem ter seu tempo de amadurecimento respeitado e preservado como estabelece a legislação brasileira”. 

Criança e Consumo

Fora isso, a instituição também ajuda a população a reconhecer traços de publicidades assim, como por exemplo o uso de elementos do universo infantil e o discurso direto para as crianças. Vale lembrar que isso não é a mesma coisa que propaganda infantil, a qual visa a divulgação de ideias ideológicas sem o apelo comercial. 

Ao se deparar com uma publicidade infantil, denuncie! Essa é uma maneira de proteger os mais novos e de contribuir para a criminalização desse tipo de ação, a qual ainda movimenta milhões no mercado. Datas comemorativas, como o Natal e Dia das Crianças, costumam chamar atenção dos pequenos.

Atente-se mais durante essas ocasiões e períodos de férias escolares. Atualmente, os mais novos não ficam enfeitiçados apenas por brinquedos novos, mas também por celulares e outros aparelhos eletrônicos. Lembre-se: criança tem que brincar, não ser “consumida” pelo próprio consumismo.